Cada um de nós carrega dentro de si um pequeno universo, oculto aos olhos alheios e selado pela aspereza lúgubre das paredes de nossas triviais inquietudes. Muitas vezes tais segredos se tornam um mistério para seus próprios criadores, tomando posse de seu tempo, sua mente, seu corpo e sua alma.

Trancados em quartos cobertos pela penumbra, vielas escusas ou em qualquer outro lugar onde possamos revelar ao espelho, ou para outro alguém tão fiel quanto, nossos anseios e mazelas sem medo de sermos julgados.

A moral tradicional inquisicionista espreita por entre as frestas de velhas janelas a nossa procura. Quem nos julga é a maioria. O que nos define é o equívoco, o engano de um para com o outro.

Não devemos crer de forma inepta ou hipócrita que estamos safos de quaisquer moléstias, vícios, carências ou sórdidas vontades e as maledicências que estes nos agregam. Não somos diferentes. Não somos especiais. Não importa a chaga que nos devora a epiderme, tão pouco os desejos insólitos que nos transpassa as vísceras. Não há pior enfermidade que nos acometa ao leito ou canhestra que nos acoberte as faces do que a negação tenaz daquilo que nos arrebata.

Anorexia, piromania, díspareunia, amnésia dissociativa, fetichismo transvéstico, mutismo seletivo, transtorno de personalidade dependente e narcisista, tricofagia, hipocondria.

E você? Até que ponto acha que se conhece?